Marcha pela Terra

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presença da Assobecaty

Construindo identidade

Depois do nosso pedido de concessão ter sido arquivado por uma disputa desigual com os evangélicos, a AssociaçãConexão Comunitária toma folego para produzir outros meios de comunicação que alcancem a comunidade de forma mais inteligente.
Estamos falando, com isso, de um emplemento nas nossas ações que nos conduziram a produção de uma publicação impressa, a Revista Conexão Comunitária e uma sala de cinema, que vai ganhar as ruas de Guaíba logo,logo com o Projeto Cine Intervenção.
A provocação valeu a pena, a comunicação que queremos fazer não pode ser restrita como a comunicação que "eles" fazem por isso, não vamos ficar lamentando a rádio que não veio. Estamos na rua, com o banner numa mão e o microfone na outra."Eles" vem de rádio, sem problema, nós de revista e cinema.
Denise Flores

sábado, 9 de abril de 2011

Luzia Abreu, da Abraço, conta como as mulheres estão transformando as rádios comunitárias do Brasil


A vice-coordenadora de gênero e etnia da Abraço (Associação Brasileira de Rádiodifusão Comunitária),  Maria Luzia Franco de Abreu, da Rádio Comunidade Friburgo, foi recebida com alívio no congresso da entidade. Ela escapou ilesa das enchentes e dos deslizamentos que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro e uniu sua voz ao coro de solidariedade, orientando os atingidos após a tragédia.

Ativista da saúde pública e das rádios livres, Luzia apresenta o bloco “Mulher Saúde”, na Rádio Comunidade Friburgo (quinta-feira, de 10 às 11h). É funcionária pública, socióloga e técnica em enfermagem. Após os deslizamentos de Nova Friburgo, participou de força tarefa da rádio para informar a população sobre áreas de riscos e interditadas, coletar donativos, e ajudar pessoas, inclusive de fora da cidade, a localizar parentes ilhados.

Em entrevista ao Boletim Gênero, Raça e Etnia, Luzia fala sobre a tragédia de Nova Friburgo, as rádios livres, e sobre a mobilização de mulheres e a inclusão da perspectiva de gênero, raça e etnia nas emissoras comunitárias.

Tragédia e solidariedade – “A rádio Comunidade Friburgo se ocupou das informações pós-catástrofe e da ajuda aos atingidos. Após a tragédia, a população ser alertada para evitar as áreas de maior risco, saber quais estradas estavam fechadas... Ter informações em meio a tantos boatos e desespero. Abrimos canais de contato para que pessoas de fora da cidade usassem a rádio para ter notícias de seus parentes. Também montamos um posto de coleta de donativos.”

Nos até avisamos, na rádio, que ia chover em Nova Friburgo, mas fomos incapazes de dar um grande alerta, antecipar o volume das chuvas”. Ninguém pôde. “Faltou um sistema de monitoramento e alerta”, lamenta Luzia.

Em dois meses e meio, a cidade recebeu o volume de chuvas previsto para um ano. Foram 166 mm de chuva em 24 horas, quantidade equivalente à média histórica para o úmido mês de janeiro. 599 mortes foram confirmadas em Nova Friburgo.

Luzia elogia atuação dos colegas, homens e mulheres, na resposta à tragédia.  “Sensibilidade não depende de gênero”, diz.Mas acho que o fato de ser mulher nos ajudou a atentar detalhes importantes.”

Gênero e Etnia - “Termos uma representação de gênero e etnia na Abraço é um marco importante. Vamos conseguir trabalhar projetos especiais a partir de agora. Já esboçamos eixos de trabalho, como a capacitação das mulheres dirigentes de rádios comunitárias para esse recorte de gênero e etnia na cobertura. A ONU Mulheres apoiou o VII Congresso da Abraço, esperamos contar com o apoio da ONU e de outras organizações para fomentar novos projetos

“No VI Congresso da Abraço, a participação das mulheres foi muito pequena, quase simbólica”. As mulheres eram poucas, mas se fizeram ouvir: naquele congresso, a Abraço, que representa 15 mil emissoras comunitárias em todo o território nacional, aprovou cotas para mulheres nas delegações estaduais. “As cotas mudaram não apenas a cara da Congresso, mas repercutiram também nas rádios. Até as emissoras que não tinham perspectiva de gênero foram se adaptando. Não dá para pensar comunicação comunitária com sem a inclusão de mulheres, negros e qualquer outros grupo”, avalia Luzia.

Rádio livre, um front de muitas batalhas – “Começamos a trabalhar com rádio em 1988, em meio à euforia da abertura constitucional. Nina Magalhães tinha voltado do exílio na Alemanha e montou o projeto de rádio-poste com mulheres da zona rural, aqui da região serrana. Nossa rádio já nasceu com uma perspectiva de gênero. Em 1992, chegamos à zona urbana, pelas ondas de rádio.

Os anos 90 foram um tempo de muita perseguição e criminalização das rádios livres, ditas “piratas”. Em 1996, a Rádio Comunidade Friburgo foi umas das 15 beneficiadas com uma portaria para o funcionamento e se tornou uma das primeiras “rádios-piratas oficiais”.  Mas mesmo assim, fomos invadidos pelo Dentel, o órgão de fiscalização. O Dentel rasgou a cópia de nossa autorização, disseram que nem o presidente tinha competência para autorizar o funcionamento.

O nosso transmissor foi lacrado seis vezes, e seis vezes reaberto. Somos muito unidas e resistimos à pressão. Não temos medo. Conseguimos oficializar nosso funcionamento provisório e, no final de 2005, conquistamos a concessão de rádio comunitária, válida por 15 anos.

A Rádio Comunidade Friburgo tem 125 sócios, que contribuem com R$ 10 por mês, e empresas associadas, que contribuem com R$ 30. Temos acesso à internet por meio de um programa do governo federal e mantemos parceira com faculdades, que dão bolsas de estudos aos nossos operadores de rádio. Cada um busca apoios culturais para o seu próprio programa e assim, com muita luta, mantemos a rádio no ar.

(CF)

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